segunda-feira, dezembro 19, 2005

CALVÁRIO - "Dissonância"

No artigo de 10 Dezembro do já conhecido jornal "O Gaiato", o Pde Baptista tenta abrir os olhos a esta Igreja de intenções e contradições..."Quem tem ouvidos, que oiça"!
Eu..."enfiei o barrete" até aos pés!!!


Em momento de lazer, o pequeno rádio de um doente debita cânticos religiosos. As melodias vão convidando os ouvintes à dedicação, à amizade fraterna. São hinos de amor ao próximo.
Ao ouvi-los, fico a pensar na ligeireza com que se entoam estes cânticos, pois, na prática, não há tradução correspondente. Tanto amor proclamado pelos outros, mas não vislumbro, no meu horizonte, uma pessoa disponível, permanente para os cuidados a dispensar com os doentes que aqui temos. Os funcionários retiram-se cedo, mas aqueles precisam de alguém a quem possam recorrer quando necessitam de coisas elementares, dado que muitos o não podem fazer por si próprios.
Tenho andado às esmolas de quem pode dispor de algum tempo e, felizmente, vou tendo ajudas, mas esporádicas; preciosas, mas insuficientes.
E para quando aparecerá um jovem que queira tomar o meu lugar e assumir a paternidade destes doentes - como sacerdote?
A Igreja, hoje, instala-se nas suas práticas, nos seus movimentos, romarias e tradições. Raramente dá passos para concretizar a fé em obras.
A entrega radical ao serviço dos mais Pobres, não está na ordem do dia. Todos andam pelos padrões do tempo que corre.
A oferta da vida a causas como esta não está no horizonte dos cristãos do nosso tempo. Todos têm medo de perder a vida ou não a aproveitarem o melhor possível. Mas quem a não perder, por causa do Evangelho, não é digno d'Ele. Os cristãos também gostam de enveredar pelos caminhos do mundo; mas o caminho deles é Cristo, nascido para dar a Vida pelos homens.
Há quem nos sugira outros rumos e aconselhe a seguir por eles. São indicações laicas e materialistas. Cristo já não seduz como naquele tempo. Cristo já não é Caminho na vida da maioria dos homens deste tempo. Mas a vida só tem valor quando a damos. Pois, perder a vida é ganhá-la!
As melodias prosseguem melífluas nas mãos do doente.

Pde Baptista