segunda-feira, agosto 08, 2005

CALVÁRIO - "A hora dos amigos"

Estive há dias no Calvário (bem pertinho daqui) e o Pde Baptista falou-me da morte..."Eu não tenho medo da morte!"- conclui com aquele estilo destemido que caracteriza os jovens. "Isso é porque pensas que está longe!"- riu-se ele com amizade.
Este artigo do jornal "O Gaiato" de 6 de Agosto, veio continuar a conversa...apesar d grandinho, partilho convosco, porque acho que vale a pena reflectir nisto,com serenidade!

"Foram já centenas aqueles que passaram por aqui a caminho do Além. Muitos vieram expressamente para morrer. Alguns não tinham consciência da sua grave situação; outros sabiam-no. Mas isso não era, tantas vezes, para eles ocasião de tristeza ou angústia. Pelo
contrário. A maioria vinha desiludida, maltratada, rejeitada. E aqui encontravam amigos na mesma barca, felizes por poderem ainda viver, aproveitando todos os
momentos para realizarem qualquer coisa ou simplesmente conversarem e rirem. E assim encontravam-se a si mesmos no encontro com os outros. Parecia que
aproveitavam os dias da vida como únicos. A certeza da impossibilidade de cura dava-lhes mais vontade de viver, de viver bem, de estabelecer laços fortes com
os outros, de partilhar a vida passada e presente.
O senhor António, de quem recentemente dei notícia da sua morte, apesar dos limites que a trombose lhe impusera, estava tranquilo no seu leito. Um dia, veio a esposa e perguntou-lhe se desejava voltar para casa. - Que não, acenou com a cabeça, pois não falava. E sorriu. Tinha aqui amigos, tinha aqui a presença de quem o estimava.
Os amigos são, na verdade, ajuda preciosa nestes momentos derradeiros. A ânsia de os levar manifesta-se, por vezes, no agarrar das mãos de quem está a seu lado.
O "Limão" era um rapaz limitado fisicamente, mas muito capaz. Tinha a responsabilidade da nossa vacaria. Todos o estimavam e admiravam.
Um saro-linfoma surgiu-lhe aos 20 anos. Foi internado no hospital. Inúmeras vezes ali me desloquei para o ver e falar. Certo dia, logo ao chegar, vejo que tem algo de muito importante para me comunicar. - Sabe, tenho cancro. Vou durar pouco tempo. As lágrimas vieram-lhe aos olhos. Os meus também humedeceram. Mas sorrimos um para o outro. Ele sabia que eu era seu anigo. Por isso, confiou-me sereno a sua confidência. e acrescentou: - Gostava de ver os meus colegas. Tenho saudades deles.
Uma ambulância trouxe-o a nossa Casa. Foi um conforto para ele ver como todos o acarinharam.
Na Manhã seguinte havia Eucaristia. Era Domingo. Dois deles levaram-no ao colo para a Capela. Aí rezou com os demais.
À tarde, regressou ao hospital, como tinha sido acordado. Pelas vinte e três horas recebo um telefonema:-O seu Manuel acaba de falecer.
Ele partiu levando consigo os amigos.
A nossa sociedade precisa de ter uma atitude mais digna, verdadeira e compreensiva, perante a morte. Esta faz-nos viver com mais empenho o dia-a-dia; com mais desejo de arranjarmos amigos para não nos sentirmos sós quando partimos."
Pde Baptista

1 comentário:

Anónimo disse...

Nem sei ao certo por onde começar. Tudo começou quando certo dia de manhã estava a tomar o pequeno-almoço e a D. Iolanda (mãe da Yana) me falou do Calvário. Despertou-me algum interesse em ver tal sítio, pelo menos pela maneira como foi descrito, porque parecia que tinha algo de diferente. Um dia mais tarde, ao chegar ao belo do local verifiquei o porquê de ter algo diferente, a simplicidade das pessoas e a alegria em que elas vivem é impressionante, se querem que vos diga ainda hoje não sei bem explicar o que ia cá dentro enquanto lá estive, tudo parece diferente e faz-nos acreditar que tudo é possível para viver na mais simples felicidade, e acima de tudo faz-nos pensar muito na nossa vida, no quando poderemos ser úteis mesmo que pensemos que não, basta apenas ajudar quem mais precisa. Muito obrigado (Yana e D. Iolanda) por me darem a conhecer o Calvário, espero lá voltar mais vezes. Quanto à morte, também não penso muito nela porque acho que ela ainda está longe, mas após a leitura do texto fez-me reflectir que poderemos ajudar ou sorrir para alguém vendo nesse gesto a possibilidade de ser o último da nossa vida ou de poder ser o último para com essa pessoa. Quanto ao Padre Baptista no pouco tempo que estive com ele apercebi-me que é uma pessoa bastante enriquecedora, dei conta de que a minha fé ainda era algo pequena enquanto ele falava e mostrava a grandeza da sua Espiritualidade. Ass: Kinder