domingo, abril 08, 2007

Páscoa Feliz…Feliz passagem…passagem rumo à felicidade!

Mas o que desejamos quando desejamos uma Páscoa feliz? Poderá este nosso desejo ser igual ou sequer semelhante? Por certo que muitos de nós desejamos que as reuniões e encontros familiares que acontecem nestes dias sejam pacíficos e felizes mas é tudo o que queremos dizer ao dizer Páscoa Feliz? A vós desejamos tudo isso, mas muito mais!
Descreveria estes dias que vivemos, a assim chamada semana Santa e o tríodo Pascal, como uma música de Arvo Part. É lenta, cheia de sombras e recantos muito escuros, intensamente fria e desumana, mas intensa e surpreendentemente colorida pela voz do Homem. Assim vos queríamos falar da Páscoa hoje.
Celebra-se em toda a comunidade judaica a passagem (Páscoa) do povo pelo deserto, caminho único para passar da escravatura à liberdade. Na música de Arvo Part sente-se isto de uma maneira particularmente clara.
Nesta obra (Te Deum), podemos vislumbrar as feridas nos pés de quem caminhou no deserto, infinitamente inferiores às feridas daquele que caminhou num deserto de humanidade, rodeado de tantos mas tão só; o cansaço a falta de fôlego e o desespero que precede sempre a graça. O povo que atravessou o mar vermelho, onde ficaram encerrados os que o perseguiam, deve ter-se sentido um pouco livre. Sentiram-se livres mas rodeados pelo deserto. É um paradoxo, até podemos pensar que é erróneo: Livres face a um deserto!
No mesmo sentido também a paixão de Jesus tem uma suspensão na cruz, onde os seus inimigos o aprisionaram. Morreu na cruz, o seu sofrimento teve aí o seu termo sendo um pouco sinal de libertação, mas também paradoxalmente a sua cruz deve ser para cada um de nós um deserto. Para os que assistiram, aquela cruz era o único sinal de salvação, mas como acreditar numa cruz?! Como me sentir livre às portas de um deserto?!
É aqui que a música muda. A harmonia que muda de tonalidade, fere ao princípio, surpreende e assusta mas liberta o fôlego suspenso em cada um de nós perante a morte aparente daquele que se dizia Filho de Deus, atrevido que se quis igualar a Deus, nunca o querendo no entanto substituir ou sequer existir sem O Pai.
Fixaram Jesus numa cruz, é aí que o vemos, preso a um lugar. Mas a simplicidade de algumas palavras do Novo Testamento iluminam o lugar onde Jesus está agora e onde nos quer ensinar a ficar: “Aquele que procurais não está aqui (…) Ele vai adiante de vós a caminho da Galileia.” Da Cruz, do deserto, em alguma instância, Jesus está agora no caminho, e é para o caminho que Jesus nos manda!
Estar a caminho é não nos fixarmos nas nossas seguranças e partir para onde sentimos a paz que advém do cumprimento da vontade de Deus. Não para o caminho mais seguro muitas vezes, nem sequer para o mais desejado, mas para o caminho que nos faça sentir a brisa da paz, que todos nós tivemos já a graça de sentir, qualquer que seja o nosso credo ou não credo.
A vossa vida testemunha de certeza a paz que traz o cansaço de um dia onde sentimos ter feito o bem, seguindo a consciência e não a ciência. Maior alegria deve sentir o vosso coração, aqui na berma de uma estrada, seguindo a Salvação.

2 comentários:

Alfa disse...

«podemos vislumbrar as feridas nos pés de quem caminhou no deserto, infinitamente inferiores às feridas daquele que caminhou num deserto de humanidade, rodeado de tantos mas tão só; o cansaço a falta de fôlego e o desespero que precede sempre a graça.»

=) Magnífico =)

Alfa disse...

Queremos mais!!!=)
Eheheh!
Bjinho para vocês!Apesar do cansaço e da minha miséria humana...

Yaniel vocês conseguem sempre transportar-me para o delicioso paraíso das vossas doces formas de visão. Conseguem que a brisa d'Ele toque e reforce a minha força...
São sem dúvida, aqueles que fazem parte de mim e da minha história... =)